quinta-feira, 2 de junho de 2011

Instinto Materno existe?

Para que um comportamento seja classificado como instinto, ele deve ser inatamente determinado e deve ser específico a certas espécies e aparecer da mesma forma em todos os seus membros.
Dessa forma fica evidente que instinto materno não existe. Caso existisse, não haveria nenhuma mulher em nossa espécie que rejeitasse o filho, ou colocasse para adoção, abandono, entre outros. O que existe é o amor materno e não o instinto.
É muito comum as pessoas acreditarem que a mulher assim que descobre que está grávida, já é a pessoa mais feliz do mundo e ama a criança incondicionalmente. O que nem sempre é verdade. É muito comum que a mulher ao receber tal notícia entre em conflito. Muitas coisas passam pela sua cabeça e o sentimento de felicidade, nem sempre é o primeiro sentimento que a mulher expressa, principalmente quando a gravidez não é planejada. Muitas pesquisas revelam que mais de 50% das mulheres brasileiras, não planejam a gravidez, e a notícia da gravidez, nem sempre é bem recebida. Portanto, se você é uma gestante e não recebeu bem a notícia da gravidez, coisas passaram pela sua cabeça, não ache que você é a única no mundo com esses sentimentos, mais de 50% das mulheres brasileiras, também passam por isso, é mais comum do que imaginamos. O problema é que a sociedade não dá espaço para a mulher falar sobre esses sentimentos de ambivalência comuns no inicio da gestação e em muitos casos por toda a gestação. As regras e valores da nossa sociedade muitas vezes, são cruéis com nós seres humanos. Dessa forma as mulheres se calam, com medo de falar e serem julgadas, e passam a acreditar que há algo de errado com elas. O que não é verdade.
Só amamos aquilo que conhecemos, não é possível amar aquilo que não se conhece, por tanto o amor de mãe é construído e não dado instintivamente. A mulher muitas vezes no inicio da gestação, pensa que algo estranho acontece com ela, pois ela não sente aquele amor pela criança, muitas falam que nem ao menos se sentem grávidas, e isso trás estranhamento, pois em seu imaginário, assim que ela soubesse que estaria grávida, sua vida mudaria, seria a mulher mais feliz do mundo e acordaria sorrindo todos os dias. Mas não é assim que as coisas acontecem, a mulher leva um tempo para aceitar a notícia da gravidez, para aceitar que está grávida e para aceitar o bebê. O amor vai sendo construído ao longo da gestação, o bebê é um estranho para ela. Mesmo que ela realize o ultrassom, muitas vezes o que ela vê na imagem são apenas manchas, que ela não entende. Em geral no segundo trimestre de gestação quando a mulher já consegue ver a barriga crescer, sente os movimentos fetais e já sabe o sexo da criança, ela começa a se identificar com uma gestante e a essa altura o bebê desconhecido, vai se tornando um ser mais conhecido, possibilitando um inicio de troca afetiva maior. Mesmo quando a mulher durante a gravidez, já apresenta sentimento de amor pelo bebê, muitas vezes no nascimento quando de fato mãe e filho se conhecerão, a mulher pode olhar para a criança e sentir que ele é um estranho.
Rafaela de Almeida Schiavo
Psicóloga Clínica e Perinatal
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Um comentário:

  1. Olá. Concordo que o amor materno é algo construído e que mulheres são pressionadas para demonstrarem imediatamente algo que na verdade precisa de um tempo para fluir. Em alguns casos esse amor sequer vai se estabelecer. Já sobre o instinto materno, eu tenho dúvidas. Não sou profissional de nenhuma área de estudo ligada a este assunto, divago como quem lê aqui e ali. Penso que isto, o instinto materno, se compara com o instinto de perseguição e fuga, de acasalamento, de alimentação e etc, todos ligados às necessidades básicas de sobrevivência das espécies. Uma das coisas mais importantes, a meu ver, é a capacidade da fêmea em prover os cuidados de que o filhote necessita. Ninguém precisa ensinar uma leoa a amamentar, ou uma ave a chocar os ovos, a fazer ninhos ou a uma fêmea de bonobo a parir e por aí vai. Pessoas que trabalham monitorando animais selvagens dizem que um dos momentos mais perigosos de se aproximar é quando uma fêmea está com filhote, ela vai fazer de tudo para protegê-lo. Mesmo fêmeas que não cresceram com outros da mesma espécie nem viram outras fêmeas cuidando de filhotes, sabem o que fazer quando ficam prenhas. Isto indica que há sim um saber inato.

    Existe um conhecimento básico que está profundamente entranhado na constituição mental das fêmeas que as permite desempenhar tarefa tão importante, que não precisa ser ensinada, afinal se elas não fizerem a parte delas direito, os filhotes morrem e a espécie se extingue. Não me parece crível pensar que a natureza(evolução) seria tão negligente a ponto de não criar um automatismo para as mães, assim como criou para tudo o mais na vida selvagem. Também acredito que isto não estaria presente em homens pois que machos, na maioria das espécies, não são responsáveis diretos pelos cuidados com as crias. O que não impede homens de serem pais amorosos.

    Eu sou totalmente a favor de acabar com mito do AMOR materno como algo inato porque de fato, não é. Quando lembro disso, sempre penso naquela construção religiosa com seu exemplo máximo e impossível da mãe que pariu imaculadamente e também no machismo que deturpou tudo o que faz referência direta ao feminino, menstruação, gravidez, menopausa etc. Só que isso, no meu entender, não exclui a idéia do INSTINTO materno. Tampouco há conflito disto com mulheres que rejeitam seus filhos visto que seres humanos não são dominados por estes automatismos, temos nossa racionalidade, nossa cultura e tomamos decisões criativas e diversificadas. Afinal, têm pessoas bulímicas, suicidas, que não desejam filhos etc, contrariando instintos básicos de alimentação, preservação, procriação.

    Bem, às vezes acho que, na tentativa de contrastar com o misticismo e com os preconceitos há muito estabelecidos, há uma racionalidade extrema que atropela certas possibilidades. Também acho que negar esta parte instintiva da maternidade impede muitas mulheres de esticarem as mãos para essa biblioteca que a evolução nos ofertou para melhor cuidarmos de nossa vida e que está bem acessível dentro de cada uma de nós. Outro ponto que fico pensando é que ao se admitir os efeitos do instinto, ao se questionar o quanto a ação dos hormônios influenciam nossas atitudes, coisas que não estão no nosso controle, para algumas pessoas isso parece ofensivo, parece que é a mesma coisa que dizer que, neste caso, o amor da mãe não é verdadeiro ou tão forte pois que há também outros fatores influindo nisso. Queremos o controle incondicional de nossa mente e emoções, então negamos ou minimizamos o instinto, o "acaso", o imponderável.

    Nossa, isso ficou gigante. Alguns assuntos me empolgam rs. Enfim, são divagações minhas sobre o assunto. Estou gostando do blog, vou continuar saboreando os textos :)

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