sábado, 24 de dezembro de 2011

Stress na gestação e no puerpério: uma correlação com a depressão pós-parto

RESUMO
OBJETIVO: Descrever e comparar as fases do stress de primigestas no terceiro trimestre de gestação e no pós-parto e correlacioná-las à ocorrência de depressão pós-parto (DPP).
MÉTODOS: A pesquisa foi constituída de duas etapas, caracterizando-se como pesquisa longitudinal. Na Etapa 1, participaram 98 primigestas e na Etapa 2, 64 delas. Na Etapa 1, a coleta de dados aconteceu no terceiro trimestre de gestação e, na Etapa 2, no mínimo 45 dias após o parto. Na Etapa 1 aplicou-se o Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL) e uma Entrevista Inicial para caracterização da amostra. Na Etapa 2, aplicou-se novamente o ISSL e também a EPDS (Escala de Edimburgo). Os dados foram analisados usando o programa estatístico SPSS for Windows®, versão 17.0. As análises estatísticas efetuadas foram o Teste t de Student e p de Spearman.
RESULTADOS: No terceiro trimestre, 78% das participantes apresentaram sinais significativos para stress e, no puerpério, 63% manifestaram, apresentando diferença significativa entre o stress manifestado no terceiro trimestre e no puerpério (t=2,20; p=0,03). Observou-se, também, correlação entre o stress apresentado tanto na gestação como no puerpério e a manifestação de DPP (p<0,001).
CONCLUSÃO: Tanto na gestação como no puerpério mais da metade das mulheres apresentam sinais significativos para stress. Entretanto, a frequência da manifestação dos sintomas significativos de stress na gestação foi superior à frequência apresentada no puerpério. Tais resultados parecem guardar uma estreita relação com a manifestação de DPP, indicando relação entre stress e DPP.

Palavras-chave: Gravidez; Período pós-parto; Estresse psicológico; Depressão pós-parto; Saúde mental.

Link para acesso ao artigo completo publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia:  http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032011000900006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Elogio Público ao Médico Drº Marcos Augusto Bastos Dias

A coalisão de entidades abaixo relacionadas,  amigos, companheiros de trabalho, ex-pacientes e clientes atuais, mulheres e suas famílias vimos a público manifestar nosso apreço e admiração pela trajetória profissional no âmbito da assistência, pública e privada, do ensino e da pesquisa do Médico Obstetra Dr. Marcos Augusto Bastos Dias, trajetória essa pautada pela ética e pelo compromisso com a qualidade da atenção e dedicação à saúde das mulheres e crianças.  Elogiamos ainda sua disponibilidade para trabalhar em equipe, sua competência técnica e atitude humana, e seu empenho na implementação das políticas públicas, a exemplo da implantação de novos espaços mais humanizados para assistência ao parto, como os Centros de Parto Normal, política emanada pelo Ministério da Saúde através da portaria GM 985/1999, referendada pela RDC 36/2008 da ANVISA e um dos esteios da atual Estratégia Rede Cegonha.


Prezado parceiro

Segue abaixo o relato pessoal do Marcos Augusto Bastos Dias referente à penalidade que lhe está sendo aplicada pelo Conselho Federal de Medicina. A pena inicial de cassação do exercício profissional foi atenuada para Censura Pública em jornal de grande circulação.

Fazemos parte de um movimento que considera essa censura pública injusta, na medida em que ele nada fez de errado e, se pode ser acusado de algo, é de sempre ter atuado em defesa da saúde de mulheres e crianças e ter se esforçado para implantar políticas públicas que favorecem essa população e qualificam a assistência.

Em decorrência, neste momento solicitamos sua adesão e apoio, que pode dar-se de duas formas, não excludentes:

1- Se você representa uma organização ou movimento social, solicitamos que endosse nosso elogio público, enviando para a ReHuNa, e-mail daphne.rattner@gmail.com, o nome de sua organização

2- Pretendemos publicar esse elogio público em jornal de grande circulação e o custo é alto. Pedimos que você e sua organização contribuam para que possamos fazer isso como resposta do movimento social a essa injustiça, para a conta  de Maria do Carmo Leal no Banco do Brasil  agencia 4220-X  cc 15041-X. Caso deseje fazer transferência on line, o CPF é 080099615-15. Sugere-se doação de cem a duzentos reais, sendo possíveis valores maiores.

Como não sabemos quando será publicada a censura pública, mas precisamos poder dar uma resposta pronta e imediata, solicitamos que agilize na medida do possível sua adesão e/ou contribuição

Contamos com seu apoio - em defesa da SAÚDE!

em nome de nosso grupo

Daphne
Coordenação Executiva - ReHuNa 

 A mensagem do Dr. MARCOS:

Car@s companheiros segue texto sobre o julgamento.

Em 08/12/2011 aconteceu em Brasilia no Conselho Federal de Medicina (CFM) o julgamento de meu recurso contra a cassação de meu registro profissional ocorrido em julgamento no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ) em 31/03/2011. O processo contra minha pessoa foi aberto pelo próprio CREMERJ para apurar os motivos de minha assinatura em um atestado de óbito de um recém-nascido ocorrido na Casa de Parto David Capistrano em Realengo no Rio de Janeiro.

Resumo do processo de julgamento Dr. Marcos Augusto Bastos Dias relativo ao nascimento de um natimorto na Casa de Parto David Capistrano da SMSDC/RJ
As 21h do dia 30/03/2011 aconteceu no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro o meu julgamento. Não fui denunciado pela mulher ou seus familiares, mas acusado pelo grupo materno-infantil do próprio CREMERJ por ter assinado o atestado de óbito do recém-nascido de uma parturiente que havia dado a luz na Casa de PartoDavid Capistrano em Realengo, inaugurada em abril de 2004 durante o período em que era responsável pela Gerencia dos Programas de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde/RJ.  
A gestante, que havia feito seu pré-natal na Casa de Parto teve seu filho na noite de 22 para 23 de dezembro de 2004. Ao nascer não deu sinais de vida e após manobras de tentativa de ressuscitação que não obtiveram êxito foi considerada natimorta. Como na Casa de Parto não há médico foi solicitado pela Enfermeira Leila Gomes, responsável pela Direção da Casa de Parto, que a antiga Coordenação de Programas de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do RJ providenciasse o atestado de óbito.
Sabendo da necessidade de realização de uma necropsia a então Coordenadora Dra Kátia Ratto solicitou à Diretora do Hospital Menino Jesus que o exame fosse lá realizado. Após consulta a patologista do hospital o corpo de recém-nascido foi levado ao referido hospital onde a necropsia foi realizada pela Dra Maria Marcelina. Preocupados em entender o que tinha determinado o óbito do recém-nascido e garantir que a família pudesse sepultar a criança antes do feriado de Natal eu e a Dra. Katia Ratto fomos até o hospital onde discutimos os aspectos clínicos do caso com a anatomo-patologista.
Como havia uma grande luta do CREMERJ contra a abertura e funcionamento da casa de parto, a Dra Maria Marcelina se sentiu constrangida de assinar a declaração do óbito com medo de ser punida por aquele órgão. Foi então que me prontifiquei a assinar o atestado de óbito que foi preenchido conjuntamente com a patologista segundo os dados macroscópicos da necropsia. Seguindo orientação minha e da Dra Katia Ratto a Diretora do Hospital Menino Jesus oficia o CREMERJ informando que o exame de necropsia havia sido realizado naquele hospital.
É a partir da chegada desta comunicação ao CREMERJ que o mesmo abre de ofício uma sindicância que mais tarde se transforma em um processo ético-profissional contra a minha pessoa. Apesar da defesa constante no processo evidenciar que não havia motivo para minha condenação o referido órgão determinou minha cassação que depende agora de referendo do Conselho Federal de Medicina.
À revelia dos autos do processo o julgamento tratou exclusivamente do funcionamento da casa de parto. Vários dos conselheiros manifestaram sua raiva por não terem conseguido ainda fechar aquela unidade de saúde.  Não foram discutidos os aspectos da minha defesa relativa ao preenchimento do atestado de óbito, mas minha responsabilidade pela abertura da Casa de Partoque para eles se evidenciava na minha decisão de assinar o atestado de óbito. Todos os conselheiros que se manifestaram por ocasião do julgamento bradavam sua repulsa ao funcionamento daquele estabelecimento e como na fala de um dos conselheiros, os assassinos do bebê eram o prefeito da cidade e os idealizadores da Casa de Parto dentre os quais me incluía. Foi na condição de responsável pela abertura da Casa de Parto que decidiram pela minha cassação.
 No julgamento no CFM os Conselheiros entenderam por unanimidade que houve no julgamento no CREMERJ ã adoção de uma pena excessiva e que embora concordassem com minha condenação achavam que a pena deveria ser de censura publica a ser publicada em jornal de grande circulação no RJ.
Novamente neste julgamento foi ressaltada a oposição do CFM as Casas de Parto.

Um abraço, Marcos Dias.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Moção sobre erradicação da Violência Institucional na Atenção Obstétrica

Está circulando uma moção assinada para a Conferência de Políticas para Mulheres por RAMA (Rede Feminista de Apoio a Maternidade Ativa do RN, GAMI (Grupo de Afirmação a Mulheres Independentes RN), o Coletivo Leila Diniz RN, o Instituto Nômades Recife, o Grupo Ishtar Recife, a  Parto do Principio, o Grupo Curumim, o CAIS do Parto, a ReHuNa – Rede pela Humanização do Parto e Nascimento, Rede Nacional de Parteiras Traditionais, a Associacao das Parteiras do Agreste Pernambucano, GAMA, Mulheres de Terreiro, Mulheres de Axe, Articulação de Mulheres Negras, 
assinei também pelo GEMAS
 
Ajudem a divulgar 

Moção sobre erradicação da Violência Institucional na Atenção Obstétrica 



A violência durante o parto é uma prática que já está institucionalizada e é uma violação dos direitos
humanos como foram definidos pela ONU. A mulher tem o direito não somente de poder parir aonde ela quiser e como ela quiser, mas tem o direito de ser tratada com dignidade e com respeito durante todo o processo de parto.
A resolução de 2009 emitida pelo Conselho de Direitos Humanos das Organização das Nações Unidas sobre a redução da mortalidade materna e suas causas (entre outras, sabemos hoje que são os modelos de atenção obstétrica inadequados e assistência de baixa qualidade) apela para ações orientadas a reduzir a mortalidade materna e a promover um atendimento de qualidade, sem discriminação de gênero, de raça, ou orientação sexual.

Uma forma de violência são as muitas intervenções desnecessárias, sendo a mais paradigmática a cesárea desnecessária. E sabemos que em 2010 a proporção de cesáreas ultrapassou a de parto normais no Brasil. Em decorrência e à luz da política nacional de qualificação da atenção obstétrica e neonatal intitulada Rede Cegonha
Exigimos
A garantia de uma fiscalização sistemática da qualidade da assistência obstétrica e identificação da violência que existe de maneira endêmica nos hospitais públicos e privados, pela agencias governamentais adequadas, assim como a aplicação e fiscalização do respeito à lei 11.108 de garantia da presença de um acompanhante de escolha da mulher durante o trabalho de parto, no parto e no pós-parto.
Ademais, as recomendações do Ministério da Saúde sobre os direitos da Mãe e Bebe não são observadas nos serviços e são uma violação brutal de direitos humanos, assim com uma ameaça para a saúde materna e neonatal

Exigimos
O direito à informação sobre os procedimentos, com exigência de que haja consentimento da Mulher para as intervenções a que for sujeita no parto como Episiotomia, Cesárea, Indução etc.
Exigimos ainda
A criacão sistemática em cada região de saúde de comitês de morte materna em que as organizações da sociedade civil e governamentais avaliem em conjunto indicadores do acesso e qualidade da atenção obstétrica, incluindo as taxas de cesáreas, alem de estudar cada morte materna observada no município para identificar suas causas e evitabilidade, com efeitos na qualidade da assistência.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

MPF defende privacidade em exames em hospital universitário de Rio Grande

2011-09-05 16:58:53

MPF defende privacidade em exames em hospital universitário de Rio Grande



Uma gestante de alto risco teve procedimento ginecológico negado pelo Hospital Universitário Miguel R. Corrêa Junior porque impediu que estudantes de medicina da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) acompanhassem o exame. O Ministério Público Federal moveu ação civil pública, julgada improcedente tanto pela Vara Federal de Rio Grande quanto pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Agora, a Procuradoria Regional da República da 4ª Região (PRR4) apela para que o Supremo Tribunal Federal (STF) mude o entendimento.

O procurador Carlos Eduardo Copetti Leite, autor do recurso, considera que negar atendimento ao paciente que recusa o acompanhamento discente contraria direitos fundamentais como direito à dignidade, à intimidade e à saúde. Segundo ele, a questão transcende o interesse subjetivo da causa. "O objetivo da ação civil pública não é impossibilitar todo e qualquer acompanhamento de estudantes em exames médicos, mas tão somente quando o paciente sinta-se constrangido, humilhado e violado na sua intimidade", afirma.

Para a Justiça, o bem maior a ser protegido neste caso é o da excelência do ensino médico, que privilegia o interesse público de todos os cidadãos que necessitam de cuidados hospitalares. Copetti argumenta que "o grau de realização do direito fundamental ao ensino dos estudantes de medicina não é tamanho a ponto de justificar a não realização ou a restrição do direito à saúde, à intimidade e à dignidade da paciente".

O procurador acrescenta que o hospital da FURG é credenciado ao Sistema Único de Saúde (SUS), sendo remunerado por todos cidadãos para a realização de seus fins. Portanto, o ensino da medicina não pode ser obstáculo à realização de consultas e exames. Além disso, a instituição é referência em relação ao acompanhamento pré-natal de casos de alto risco: é o único em Rio Grande em que tal serviço é oferecido pelo SUS. "Exigir a busca por outra instituição seria até agravar a situação dos interessados, fazendo com que eles dispensem recursos que não possuem para o deslocamento, sendo justamente a hipossuficiência a razão que os leva a procurar um hospital público naquela localidade", defende.   
Acompanhe o caso no TRF4:

Apelação Cível Nº 5001945-73.2010.404.7101

Fonte: Ascom PRR-4.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O sonho e o pesadelo da fertilização

O sonho e os pesadelos da fertilização

Apesar dos avanços médicos, dilemas pessoais pontuam a busca dos casais inférteis, como Paulo e Esther de “Fina Estampa”, por um filho

Renata Losso, especial para o iG São Paulo | 06/09/2011 07:42

Foto: João Miguel Júnior/TV Globo Ampliar
Dan Stulbach e Julia Lemmertz nos papéis de Paulo e Esther: sonho ameaçado pelas pressões da fertilização com o esperma de outro homem
Em “Fina Estampa”, novela das nove da Rede Globo, o casal interpretado por Dan Stulbach e Julia Lemmertz enfrenta uma questão delicada: enquanto ele é estéril, a esposa quer muito ser mãe. Eles precisariam não só de uma mãozinha das técnicas de reprodução assistida, mas também de uma visita a um banco de esperma. Embora este tipo de atitude seja mais comum do que se imagina atualmente, nem sempre é fácil levá-la adiante. Que o digam Paulo e Esther, personagens de Dan Stulbach e Julia Lemmertz.

Embora hoje a medicina permita gerar uma criança a partir de um óvulo que não é da mãe e do sêmen que não é do pai, descobrir-se infértil pode ser um baque para qualquer um. Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, da Unesp de Bauru, no interior de São Paulo, a cobrança social para um casal ter filhos ainda é muito forte. Quando vem à tona a impossibilidade de se tornar pais naturalmente, é muito difícil aceitá-la. “Esta dificuldade pode até levar à depressão. Muitas vezes o casal se sente incompetente por não conseguir engravidar da forma natural”.

Na vida real, para Laís* e Jorge*, de 39 e 43 anos, o banco de esperma será pela segunda vez um dos aliados para a realização do sonho da paternidade. Dois anos atrás o casal estava decidido a ter um filho, mas descobriu que Jorge era estéril – assim como o personagem de Dan Stulbach na novela. Decidiram-se pela adoção, mas desanimaram diante da burocracia. Foi quando uma amiga de Jorge falou sobre o tratamento de reprodução assistida que estava fazendo e o casal descobriu que o próprio sonho ainda poderia ser realizado: a fertilização in vitro, chamada de FIV pelas mulheres que tentam, não era tão cara quanto eles imaginavam.


Foto: Alexandre Carvalho/ Fotoarena Ampliar
Laís prefere manter o anonimato, pois teme julgamentos: "o filho vai ser nosso e ninguém precisa saber"


Depois da primeira consulta, Laís e Jorge conversaram e logo decidiram, juntos, seguir por este caminho. Ser pai de um filho gerado a partir do código genético de outra pessoa não incomoda Jorge. Para ele, desde o começo sempre ficou muito claro: “O bebê vai nascer dela, mas vai ser meu também. O pai não é necessariamente quem faz, mas sim quem cria”. Na listagem dos doadores de sêmen, o casal escolheu alguém com características mais próximas às de Jorge. E partiu para a reta final da fertilização.

Ele diz tirar de letra o dilema dos homens inférteis que tanto atormenta Paulo, o personagem de “Fina Estampa”. Mas, de acordo com o filósofo e psicanalista Arthur Meucci, autor de “A Vida que Vale a Pena Ser Vivida” (Editora Vozes), a infertilidade masculina nem sempre é vista com tranquilidade. “Dar um filho para uma mulher é visto como sinal de virilidade”, diz. O homem, portanto, pode se sentir diminuído e esta sensação se reflete no relacionamento. “Quanto mais o problema for ignorado, pior. O homem pode ficar com a autoestima lá embaixo e sentir ciúmes da mulher, já que se vê como incapaz”, afirma.

A psicóloga perinatal Rafaela Schiavo concorda: a relação da infertilidade com a virilidade é comum na cabeça dos homens, mas eles devem aprender a separá-las. Segundo ela, em geral eles costumam aceitar melhor os fatos depois de elaborar o “luto” pelo filho biológico. “Afinal, ele percebe que vai ser pai. A única diferença é que não será biológico”.

De acordo com a psicóloga Vera Iaconelli, coordenadora do Instituto Gerar de Psicologia Perinatal, em São Paulo, o que torna o homem pai é reconhecer o filho. “Quando os homens descobrem que não basta inseminar uma mulher, que o filho terá que ser reconhecido como tal acima de tudo, pode ficar mais fácil lidar com o ‘fantasma’ do sêmen de um desconhecido”, diz. O que faz a paternidade, afinal, não é o esperma.

A culpa é delas


Lidar com o problema da infertilidade não é mais fácil para as mulheres. Segundo a psicóloga Rafaela Schiavo, quando um casal tem dificuldades para engravidar, na maioria das vezes se presume que a culpa é da mulher. Para Vera Iaconelli, socialmente falando, é comum a mulher se sentir mais culpada sobre a infertilidade do que o homem. Mas hoje um procedimento como o da fertilização in vitro é mais reconhecido e, quanto mais aceito é, mais os pais podem se sentir preparados para enfrentá-lo. “Existe uma gama imensa de procedimentos, então o desafio é mais social mesmo”, diz Vera. Não é somente a gestação da criança ou como ela ocorre – natural, com óvulos doados ou barriga de aluguel – que faz de uma mulher uma mãe.

A saída para aliviar as pressões é o diálogo. A situação, de acordo com Meucci, pode mexer com questões emocionais muito profundas. Não reveladas, elas acabam gerando brigas e comportamentos fora do padrão. Se tanto o homem como a mulher perderem o constrangimento de falar sobre o que estão realmente sentindo, o casal fica fortalecido para enfrentar a situação, pois compartilharam as fragilidades.

Para evitar mais pressões sociais, a maioria dos casais prefere não compartilhar a notícia do tratamento e das técnicas às quais serão submetidos. Laís e Jorge só contaram para os pais dela. “Ninguém de fora precisa saber”, diz ela. Jorge decidiu não contar nem para as irmãs. “Já que quem vai criar somos eu e ela, não faz a menor diferença de onde virá o bebê”, conta. O medo de como os conhecidos podem tratar a criança mais tarde também contou pontos na decisão pelo silêncio. "Vai que eu falo para alguém que não gosta do ocorrido e tratam mal o meu filho? É desnecessário. O importante mesmo é saberem que nós somos os pais”.


Para a ginecologista e obstetra Paula Fettback, da Clínica Huntington de Reprodução Assistida, cada casal tem um tempo próprio de compreensão do processo pelo qual vai passar. Alguns se surpreendem e outros aceitam com mais facilidade as próprias limitações – neste segundo grupo se encaixam os casais com mais comprometimento e afinidade entre si. “O homem costuma passar por um período mais longo de aceitação e compreensão”, afirma.

Apesar das dificuldades emocionais, para o psicanalista Arthur Meucci, a maioria dos dilemas vividos pelo casal são desfeitos por completo depois do nascimento da criança. Os pais se abrem rapidamente para o novo elemento em suas vidas, adaptando-se à esperada realidade de ter um bebê. “As fantasias e inseguranças acabam sendo deixadas de lado e tudo começa a entrar nos eixos”, finaliza.

Fonte: IG/ Delas/  Filhos

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Lei em MS proíbe cobrança de taxa para acompanhante em sala de parto

Em MS, lei proíbe cobrança de taxa para acompanhante em sala de parto

Lei garante direito às gestantes de ter acompanhante no parto e pós-parto.
Maternidades privadas permitiam presença mas cobravam procedimentos.

Da TV Morena
A presença de acompanhante para a gestante na hora do parto é um direito garantido em lei federal, mas que nem sempre é cumprido. Tanto em maternidades públicas como privadas, a mulher pode escolher quem vai acompanhá-la. Agora, uma lei estadual reforça esse direito e determina o acompanhamento em maternidades particulares sem custo para os pais.
Quem vê a alegria da dona de casa Diana dos Santos, mãe de primeira viagem, não imagina a tristeza que ela viveu horas antes do parto da pequena Eduarda. Ela teve o bebê na rede pública de saúde e não contou com acompanhamento. "Já tinha ficado 13 horas sozinha, com muita dor e dificuldade de ir ao banheiro. Foi terrível, é frustrante", conta
Estudos revelam que é normal a mulher sentir medo e insegurança durante o trabalho de parto. Mas a insegurança pode aumentar ainda mais as dores das contrações e fazer desse momento uma situação traumática. A presença de um acompanhante na hora do nascimento do bebê pode diminuir essas dificuldades.
A psicóloga Alessandra Rios afirma que o apoio à mulher é fundamental, e só a liberdade de escolha de quem vai estar ao lado naquele momento já é um alívio para tanta ansiedade. "Se for o pai acompanhante, é mais significativo e melhora o vínculo", diz.
O comerciante Jeferson Rogério teve essa experiência. No primeiro parto da esposa, ele não pode acompanhar. Mas no parto de Leonardo, o pai tirou fotos, filmou tudo e vai guardar na memória esse momento único. "É maravilhoso, indico a todos os pais que faça isso porque é muito importante, tanto para o bebê como para os pais", comenta. A esposa, a comerciante Tatiana Donatti, foi quem mais vibrou com a companhia do marido durante a segunda ida à maternidade. "Ele me deu uma segurança maior, foi emocionante", relata.
A mamãe Gleiciane Schmitt descansa ao lado de João Pedro. O parto foi tranquilo, e ao lado esteve uma amiga. A acompanhante foi indicação da irmã. "Você quer ter alguém alguém ali para estar conversando e te acalmando, e ela conseguiu fazer esse papel", afirma

Fonte: Globo.com

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Saber o sexo antes do nascimento importa?

Para especialistas, o fundamental é se preparar ser mãe ou pai, independentemente se de um menino ou de uma menina

Manuela Minns, especial para o iG São Paulo | 18/08/2011 08:24






Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena Ampliar
Carolina não quis saber qual era o sexo do filho Luca antes do nascimento: enxoval em amarelo
Antigamente, só se descobria o sexo do bebê na hora do esperado primeiro choro, na mesa de parto. Hoje, com ultrassom e exames de sangue, é possível saber se será menina ou menino com até oito semanas de gestação. E a maioria esmagadora quer saber, seja por curiosidade ou por motivos práticos, como montar o enxoval e receber presentes. Quem prefere a ignorância é taxado de maluco. Mas será que realmente muda alguma coisa saber antes?

Leia também
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- Prepare a mala de maternidade e o enxoval do bebê

“As pessoas não se conformavam que a gente não queria saber”, lembra a produtora Carolina Botelho, 34 anos, mãe de Luca, 6 anos. Durante os exames de ultrassom, por precaução, ela nem olhava para o monitor. As pessoas faziam apostas para saber o sexo. Até as enfermeiras, no dia do parto, entraram no bolão.

Em nenhum momento Carolina diz ter ficado ansiosa para saber se o que tinha na barriga era menino ou menina. Ao tomar a decisão de não saber o sexo do bebê, esqueceu o assunto. Os outros é que se roíam por dentro. E a dúvida durou até o parto: “Fiquei 24 horas em trabalho de parto e quando a cabeça do bebê saiu, meu marido viu aquele monte de cabelo e gritou ‘é menina’”.

A produtora não foi a única da família que optou pela surpresa. Sua irmã mais velha teve dois filhos e não quis antecipar o sexo de nenhum. “Meu médico é o mesmo dela e me dizia que a gente tem de se preparar para ser pai e mãe, independentemente de esperar menina ou menino”, conta.

O ginecologista Pedro Paulo Monteleone, da Clínica Monteleone, de fertilização, concorda plenamente. Para ele, os tempos da surpresa eram muito melhores. “Hoje em dia, a maior parte dos casais quer saber o sexo do bebê antes de engravidar. Vão para a sala de parto sabendo a cara, o sexo e o nome”, diz o médico. “Acabou o romantismo”.

Por mais que os pais queiram definir tudo, a legislação brasileira impede o casal de escolher o sexo do bebê nos casos de inseminação artificial. Salvo onde há recomendação médica, como casos de doença de família relacionada ao sexo.

Leia também: o sonho da fertilização e o pesadelo da laqueadura


Foto: Carla Fomanek Ampliar
Renato e Lucia no lançamento do livro: ele se preparou para ser pai de menina
Preparação sob medida

Se a ignorância funciona como um fator positivo na gestação e formação dos futuros pais, saber se o bebê que está naquela barriga é uma menina ou um menino pode desmistificar a futura criança e evitar frustrações. “O sexo do bebê é um dos processos mais fantasiados. De cada dez casais, nove querem saber o que terá”, conta Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal da UNESP de Bauru.

Não ter este desejo realizado pode gerar estresse e frustração. “Quando recebem a notícia e não é o que se esperava, o casal pode até criar um certo desapego com o bebê”, conta Rafaela. Nestes casos, é importante saber o sexo, para poder lidar com a questão. Se não for o que imaginavam, os pais podem fazer o luto do bebê imaginado e ir criando uma nova identidade para o bebê real.

“Saber que eu ia ser pai de uma menina ajudou a me preparar psicologicamente”, conta o escritor Renato Kaufmann, autor do blog Diário de um Grávido e do livro “Como Nascem os Pais” (Mescla Editorial), em que ele descreve o desespero e as delícias da espera e do nascimento da pequena Lúcia, hoje com 2 anos.

Renato diz que ele e a mulher nunca consideraram a hipótese de não saber o sexo do bebê. Para ele, saber de antemão ajudou a tirar as dúvidas de como lidar e o que ensinar para uma menina. “Estou adorando ser pai de menina”, atesta o escritor.

Leia também: gravidez semana a semana

Decoração unissex

Além da preparação psicológica, as questões práticas também pesam. Que roupas comprar e como decorar o quarto?

Para Renato Kaufmann, seria sem graça ter tudo unissex. “Nem é tanto pelo azul versus rosa, mas não acredito nessa de criança criada sem gênero. Tem é que evitar os estereótipos. Eu vivo vestindo a Lúcia de preto”, conta o pai. Segundo ele, saber o sexo do bebê ajuda também para quem vai dar presente.

Já a produtora Carolina Botelho não teve problema nenhum com o enxoval de Luca. “As roupas eram em tons neutros, brancas, amarelas, beges. No quarto coloquei uns quadrinhos que minha mãe deu”, lembra.

A bancária Solange Crisis, 47 anos, e o marido Rogério tiveram de fazer alguns malabarismos. Ela sabia que o bebê seria menina, ele não. O quarto e as roupinhas de Sofia, hoje com 10 anos, não poderiam estragar a surpresa do pai. “Tive de fazer uma decoração que não denunciasse o sexo. Já as roupinhas, comprava tudo rosa, mas escondia no armário”, conta Solange.

Os amigos tinham que dar camisetas e vestidinhos em tons neutros. “O melhor é que meu marido nem se tocava quando eram saias e vestidinhos amarelos. Não sendo rosa, estava mantido o mistério”, brinca.

“Sem saber se é menino ou menina, é preciso optar por motivos menos específicos para os acessórios. Os objetos não podem brigar com o sexo do bebê. Realmente não dá para pintar o quarto de lilás ou rosinha, vai que é um menino”, concorda a personal organizer Andrea Caetano, da Wellbeing.

Leia também: planeje bem o quarto do bebê


Foto: Divulgação Ampliar
Cupcakes revelam o sexo do bebê quando abertos
Doce descoberta

Há quem queira desvelar o mistério junto com a família e amigos. E, de quebra, de forma saborosa. Comum nos Estados Unidos, os gender cakes ganharam versão brasileira nas mãos de Luana Davidsohn, da Cupcakes da Luana.

A mecânica é simples. A futura mãe faz o ultrassom e pede para a equipe médica não contar o sexo do bebê, mas sim escrevê-lo em um papel e lacrar. Ela leva o papel até a loja de bolos e os cupcakes são preparados com recheio rosa ou azul, dependendo se for menina ou menino. Na hora em que são mordidos e o recheio aparece, o sexo do bebê é descoberto.

“Temos uma grávida que vai fazer o ultrassom e como não aguenta o suspense no mesmo dia vai reunir a família e celebrar com os cupcakes. A ideia é todo mundo descobrir junto o que será”, conta Marina Zinn, sócia do Cupcakes da Luana.

Fonte: Home IG - Delas - Filhos
http://delas.ig.com.br/filhos/saber+o+sexo+antes+do+nascimento+importa/n1597161171640.html

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Estudo indica que estresse da mãe afeta bebê no útero

BBC 20/07/2011 05h36 - Atualizado em 20/07/2011 06h36

Pesquisa observou alterações em receptores de hormônios associados ao estresse em fetos cujas mães eram muito tensas.

Da BBC
O estresse de uma mãe pode afetar seu bebê ainda no útero, produzindo efeitos a longo prazo na vida da criança, sugerem pesquisadores alemães.
A equipe da Universidade de Kontanz, na Alemanha, observou que houve alterações biológicas em um receptor de hormônios associados ao estresse em fetos cujas mães estavam sob tensão intensa - por exemplo, por conviverem com um parceiro violento.
As alterações sofridas pelo feto podem fazer com que a própria criança seja menos capaz de lidar com o estresse mais tarde. Essas alterações foram associadas, por exemplo, a problemas de comportamento e doenças mentais.
As conclusões, baseadas em um estudo limitado feito com apenas 25 mulheres e seus filhos - hoje com idades entre 10 e 19 anos -, foram publicadas na revista científica 'Translational Psychiatry'.
Os pesquisadores fazem algumas ressalvas: eles explicam que as circunstâncias das mulheres que participaram desse estudo eram excepcionais, e que a maioria das mulheres grávidas não seria exposta a graus tão altos de estresse durante um período tão longo.
A equipe enfatiza também que os resultados não são conclusivos, e que muitos outros fatores, entre eles o ambiente social em que a criança cresceu, podem ter desempenhado um papel nos resultados.
Mas os especialistas alemães suspeitam que o ambiente primordial, ou seja, o do útero, tenha papel crucial.
Investigação
O estudo envolveu análises dos genes das mães e dos filhos adolescentes para a identificação de padrões pouco comuns.
Alguns dos adolescentes apresentaram alterações em um gene em particular - o receptor de glucocorticoide (GR) - responsável por regular a resposta hormonal do organismo ao estresse.
Esse tipo de alteração genética tende a acontecer quando o bebê está se desenvolvendo, ainda no útero.
A equipe disse acreditar que ela seja provocada pelo estado emocional ruim da mãe durante a gravidez.
Sensibilidade
Durante a gravidez, as mães participantes viveram sob ameaça constante de violência por parte de seus maridos ou parceiros.
Entre dez ou vinte anos mais tarde, quando os bebês, já adolescentes, foram avaliados, os especialistas constataram que eles apresentavam alterações genéticas no receptor GR não observadas em outros adolescentes.
A alteração identificada parece tornar o indivíduo mais sensível ao estresse, fazendo com que ele reaja à emoção mais rapidamente, dos pontos de vista mental e hormonal.
Essas pessoas tendem a ser mais impulsivas e podem ter problemas para lidar com suas emoções, explicam os pesquisadores - que fizeram entrevistas detalhadas com os adolescentes.
Um dos líderes da equipe da Universidade de Kontanz, Thomas Elbert, disse: 'Nos parece que bebês que recebem de suas mães sinais de que estão nascendo em um mundo perigoso respondem mais rápido (ao estresse). Eles têm um limite mais baixo de tolerância ao estresse e parecem ser mais sensíveis a ele'.
A equipe planeja agora fazer estudos mais detalhados, acompanhando números maiores de mulheres e crianças para verificar se suas suspeitas serão confirmadas.
Comentando o estudo, o médico Carmine Pariante, especialista em psicologia do estresse do Instituto de Psiquiatria do King's College London, disse que o ambiente social da mãe é de extrema importância para o desenvolvimento do bebê.
Segundo ele, durante a gravidez, o bebê é sensível a esse ambiente de uma forma única, 'muito mais, por exemplo, do que após o nascimento. Como temos dito, lidar com o estresse da mãe e com a depresão durante a gravidez é uma estratégia importante, clínica e socialmente'.

Fonte: G1 Ciência e Saúde

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A maternidade na adolescência

A maternidade na adolescência é considerada como indesejável por sua incompatibilidade com as novas demandas sociais de qualificação profissional para inserção no mercado de trabalho e, vêm sendo apontada como origem de problemas os mais diversos, embora os resultados de pesquisas sejam controversos.
A literatura mostra que adolescentes provenientes de famílias de baixa renda e baixa escolaridade, cujas mães tiveram seu primeiro filho na adolescência, correm riscos maiores de engravidar. A grande maioria de avós maternas de mães adolescentes foram também mães na adolescência.
A gravidez na adolescência pode ter como fator de risco as explicações de natureza biológica e socioculturais. Além de fatores de risco para a própria mãe, a falta de cuidados pré-natais das adolescentes, associada a pobreza e níveis baixos de instrução, tem mostrado papel preponderante na cadeia causal de recém-nascidos prematuros e de baixo peso. Provavelmente, por ser esses fatores, agentes estressores. Um estudo realizado com gestantes adultas e adolescentes indicou que gestantes adolescentes são mais estressadas do que gestantes adultas.
Alguns autores, pontuam que a gravidez na adolescência é uma condição de risco para o desenvolvimento do bebê, tal afirmação é baseada na informação de que o corpo da adolescente não está preparado para gestar um bebê, filhos de mães adolescentes em geral nascem a baixo do peso ou prematuros, entre outros fatores biológicos, psicológicos e sociais que caracterizam a gestação na adolescência como um fator de risco.
Entretanto, sabe-se hoje que o stress gestacional é um dos fatores para o nascimento prematuro, baixo peso, problemas de comportamento, déficits cognitivo entre outros, desta forma, podemos pensar que se gestantes adolescentes apresentam mais stress que gestantes adultas, estas tem também maior probabilidade de darem a luz à crianças baixo peso, prematuras, com problemas de comportamento entre outros, em decorrência do stress manifestado na gestação.
       A maternidade na adolescência é vista ainda por muitos como uma condição de risco pois: há probabilidade de terem mais filhos e, quanto mais filhos, mais próximos em idade; menos anos de educação escolar ao longo da vida; níveis mais reduzidos de sucesso profissional; salários menores na vida adulta e maior probabilidade de divórcio.
Apesar de vários estudos na área indicarem os riscos de ser mãe adolescente, outros estudos realizados mostraram que comparando a interação mãe-bebê entre mães adultas e adolescentes, as mães adolescentes oferecem mais o seio para amamentação e estimulam mais os bebês do que as mães adultas . Além disso, a maternidade na adolescência não implica em menor competência na função materna. Pesquisadores chamam a atenção para os aspectos positivos da vivência da maternidade pelas mães adolescentes. A maternidade pode ser um importante fator na sua constituição pessoal e social, trazendo interferências sobre novas formas de relacionamentos e reconhecimentos sociais e de atuação em seu cotidiano, ao contrário da visão hegemônica da sociedade e da saúde pública em geral, que considera os adolescentes como um bloco único e em conflito e a gravidez na adolescência como indesejada. Existem diferentes vivências da maternidade e, pelo menos para um grupo de jovens mães, ela pode ser uma experiência de vida plena de significados positivos.
Tanto mães adolescentes como adultas necessitam de rede de apoio social, no entanto, as adolescentes solicitam maior apoio de familiares e outras pessoas, enquanto que as adultas têm menor solicitação, assumindo maiores responsabilidades em relação ao bebê e as tarefas domésticas.
A maternidade na adolescência pode apresentar uma concepção favorável a cerca do exercício da maternagem, o que, de certa forma, pode desmistificar a ideia de que a maternidade na adolescência é sempre um “terror” na vida dessas adolescentes. Mas, apesar disso, em muitos casos as avós maternas acabavam fazendo o papel de mãe substituta do filho de sua filha adolescente, pois muitas vezes a menina não vive com o pai do bebê e sim com sua família de origem, ficando assim na maior parte dos casos os avós maternos exercendo o papel dos jovens pais.
Mães adolescentes e adultas, manifestam preocupações com a saúde do bebê e com os cuidados básicos, mas as adolescentes são mais inseguras em relação aos cuidados básicos do bebê deixando a cargo da mãe - avó do bebê - algumas tarefas do dia a dia de uma mãe, como o dar banho na criança.
Em fim a maternidade é carregada de conflitos, expectativas, anseios, seja ela na adolescência, ou na vida adulta. Estar gravida, é sempre um momento impar na vida não só das gestantes, como do casal e da família, podendo, dependendo de cada situação, ser bem ou mal recebida a notícia da gravidez.
Gestantes adultas e adolescentes, casadas e solteiras, necessitam de apoio social e familiar, não existe um grupo de risco, pois cada gravidez é única, assim como cada mulher e família. É isso que precisamos entender, só dando apoio as nossa gestantes é que poderemos ajudar numa gestação mais tranquila, com menos risco para a saúde da mulher e do bebê.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Um pouco sobre a história da infância e da maternidade

A criança representada como símbolo de felicidade, é um fenômeno observado em nossa época. Se buscarmos na história o conceito de infância, entenderemos que este é um conceito que surge depois do século XV, e junto com esta visão de infância,        também surge uma nova visão do conceito de família.
Figuras datadas antes do século XV apresentam crianças como mini-adultos, os traços do rosto das crianças eram representados com traços de adultos, apenas a figura era desenhada em tamanho menor. Durante o período da Idade Média, não havia o sentimento em torno da infância do modo como concebemos hoje.
Nesta época era muito comum o infanticídio, a falta de cuidados físicos e afetivos, de higiene, nutrição e abandono das crianças, contribuindo assim para um número alto de mortalidade infantil.
As crianças recém nascidas até completarem certa idade, não moravam com suas mães e nem recebiam cuidados destas. As crianças eram entregues as amas de leite que deveriam exercer cuidados com o infante, e só apenas quando essa criança começasse a falar e andar, é que seria novamente entregue a sua família de origem, para serem tratados como mini-adultos, participando de reuniões, festas e guerras com os adultos.
Devido ao alto número de crianças que cada ama cuidava ao mesmo tempo, muitas crianças acabavam falecendo por desnutrição, doenças e falta de higiene. Com o elevado número de mortalidade infantil, surge a preocupação com o baixo número populacional, como repor os exércitos e mão de obra? Surge então a necessidade de re-popularização, e para isso era necessário cuidados com a criança para que ela pudesse sobreviver.
Surge nesta época a necessidade de que as mães cuidem de seus filhos e deixem de trabalhar para se dedicar apenas à família e ao lar. Esta é a configuração da tradicional família burguesa. Nesta época é difundido maciçamente que a função de toda mulher é a procriação, que ter um filho é a maior felicidade a que uma mulher pode ter.
A mãe deveria cuidar, alimentar, educar e fazer a criança feliz, e esta não precisaria ser lembrada de suas funções, pois era só ela seguir o seu sentimento de busca pela felicidade, seu instinto materno.
A mulher passou a estabelecer com a criança uma relação íntima e de carinho, o que socialmente lhe conferiu o “status maternal”. Os cuidados maternais passaram a interferir na própria identidade feminina, fazendo as mulheres se reconhecerem e se legitimarem na função materna. A maternidade passa então, a não ser mais vista como uma opção para a mulher, mas como uma condição para que ela se constitua plenamente um ser natural.
A igreja Católica passa a difundir o modelo ideal de mulher, como sendo o de Maria, mãe de Jesus. Caberia a mãe a tarefa de desenvolver na criança sentimentos morais e religiosos. A tradição cristã, também passa a representar os anjos como crianças, em sinal de inocência e de pureza.
Desta forma a criança não só foi considerada como o grande objeto de desejo de toda mulher, como é disseminado que a criança traz um forte sentimento de felicidade. Isso corrobora para a propagação da figura positiva da criança como mais um elemento de prazer e felicidade.
Nos séculos XIX e XX a criança da família burguesa já tinha o status de criança, com brinquedos, educação sofisticada e a criança da classe trabalhadora, eram destituídas de sua infância.
Desta forma a infância tal qual conhecemos hoje, deve ser compreendida dentro de um contexto cultural, bem como a maternidade e a família.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Instinto Materno existe?

Para que um comportamento seja classificado como instinto, ele deve ser inatamente determinado e deve ser específico a certas espécies e aparecer da mesma forma em todos os seus membros.
Dessa forma fica evidente que instinto materno não existe. Caso existisse, não haveria nenhuma mulher em nossa espécie que rejeitasse o filho, ou colocasse para adoção, abandono, entre outros. O que existe é o amor materno e não o instinto.
É muito comum as pessoas acreditarem que a mulher assim que descobre que está grávida, já é a pessoa mais feliz do mundo e ama a criança incondicionalmente. O que nem sempre é verdade. É muito comum que a mulher ao receber tal notícia entre em conflito. Muitas coisas passam pela sua cabeça e o sentimento de felicidade, nem sempre é o primeiro sentimento que a mulher expressa, principalmente quando a gravidez não é planejada. Muitas pesquisas revelam que mais de 50% das mulheres brasileiras, não planejam a gravidez, e a notícia da gravidez, nem sempre é bem recebida. Portanto, se você é uma gestante e não recebeu bem a notícia da gravidez, coisas passaram pela sua cabeça, não ache que você é a única no mundo com esses sentimentos, mais de 50% das mulheres brasileiras, também passam por isso, é mais comum do que imaginamos. O problema é que a sociedade não dá espaço para a mulher falar sobre esses sentimentos de ambivalência comuns no inicio da gestação e em muitos casos por toda a gestação. As regras e valores da nossa sociedade muitas vezes, são cruéis com nós seres humanos. Dessa forma as mulheres se calam, com medo de falar e serem julgadas, e passam a acreditar que há algo de errado com elas. O que não é verdade.
Só amamos aquilo que conhecemos, não é possível amar aquilo que não se conhece, por tanto o amor de mãe é construído e não dado instintivamente. A mulher muitas vezes no inicio da gestação, pensa que algo estranho acontece com ela, pois ela não sente aquele amor pela criança, muitas falam que nem ao menos se sentem grávidas, e isso trás estranhamento, pois em seu imaginário, assim que ela soubesse que estaria grávida, sua vida mudaria, seria a mulher mais feliz do mundo e acordaria sorrindo todos os dias. Mas não é assim que as coisas acontecem, a mulher leva um tempo para aceitar a notícia da gravidez, para aceitar que está grávida e para aceitar o bebê. O amor vai sendo construído ao longo da gestação, o bebê é um estranho para ela. Mesmo que ela realize o ultrassom, muitas vezes o que ela vê na imagem são apenas manchas, que ela não entende. Em geral no segundo trimestre de gestação quando a mulher já consegue ver a barriga crescer, sente os movimentos fetais e já sabe o sexo da criança, ela começa a se identificar com uma gestante e a essa altura o bebê desconhecido, vai se tornando um ser mais conhecido, possibilitando um inicio de troca afetiva maior. Mesmo quando a mulher durante a gravidez, já apresenta sentimento de amor pelo bebê, muitas vezes no nascimento quando de fato mãe e filho se conhecerão, a mulher pode olhar para a criança e sentir que ele é um estranho.
Rafaela de Almeida Schiavo
Psicóloga Clínica e Perinatal
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quarta-feira, 25 de maio de 2011

É preciso também cuidar da saúde mental na gestação e no puerpério

O stress, ansiedade e/ou a depressão pré e pós-natal, podem causar prejuízos de ordem orgânica, comportamental e/ou mental, ao longo do ciclo gravídico puerperal na mulher (gestante, puérpera) e/ou nos seus descendentes (de feto a sujeito).
Faz-se importante a implementação de programas de prevenção de adoecimento mental, no ciclo gravídico puerperal, a fim de diminuir e evitar os riscos a saúde materno infantil. O puerpério é o período que vai do nascimento do bebê até aproximadamente seis meses, a puérpera, portanto, é a mulher que teve bebê ha menos de sete meses.
Segundo o dicionário on line Priberam da língua portuguesa Prevenir é: 1. Dispor de antemão, preparar; precaver. 2. Avisar, informar, advertir. 3. Tratar de evitar, acautelar-se contra; livrar-se de. 4. Evitar; impedir. 5. Predispor favorável ou desfavoravelmente. 6. Dispor-se. 7. Precaver-se, precatar-se.
A prevenção da doença e a proteção da saúde têm estado presentes, ao longo dos séculos, na evolução da medicina e do pensamento médico. Os cuidados antecipatórios incluem três níveis, distintos, de intervenção preventiva: prevenção primária, secundária e terciária.
Prevenção primária
Entende-se por prevenção primária, toda a intervenção efetuada, na ausência de doença e de sintomas, com a finalidade de prevenir a sua ocorrência.
Prevenção secundária
Entende-se por prevenção secundária toda a intervenção efetuada na presença de doença diagnosticável, porém sem sintomas, com a finalidade de detectar precocemente e, através do tratamento efetivo, reverter, deter ou, pelo menos, retardar o seu progresso, antes de ocorrerem danos irreversíveis.
Prevenção terciária
Entende-se por prevenção terciária, toda a intervenção efetuada na presença de doença diagnosticada com sinais e sintomas, com a finalidade de minimizar os efeitos da doença sobre a funcionalidade do indivíduo, de melhorar ou manter a qualidade de vida e de prevenir as complicações e a deterioração prematura.
O modelo de saúde brasileiro, muitas vezes, tem sido um modelo de prevenção terciária. Um país pobre, com uma saúde precária, necessitando de muitos recursos econômicos. É preciso que o modelo de prevenção primária seja o modelo principal a ser utilizado, além de que haja uma política forte de promoção da saúde em nosso país.
Em relação à saúde na gestação, nosso país trabalha muito ainda na direção do conhecimento médico específico, deixando a área da saúde mental muito aquém do que deveria ser. O pré-natal médico é realizado em todo país, entretanto o pré-natal psicológico ainda é uma área desconhecida tanto pelo público leigo quanto para os próprios profissionais da saúde, este fato deve-se a nossa cultura, de que apenas o modelo biomédico é o certo, o correto ou até mesmo existente.
A saúde mental ainda sofre muito preconceito por parte não só da população, como também dos profissionais da saúde em geral, onde, o encaminhamento para o psiquiatra ou psicólogo só é realizando quando o individuo se encontra em profundo momento de crise.
O modelo de promoção da saúde mental ou prevenção primária de transtorno ou doença mental ainda está muito longe do que se deveria de fato acontecer.
A saúde mental da gestante não é avaliada no pré-natal médico, sendo este um agravante para a saúde materno-infantil, no Brasil é raro encontrar postos de saúde ou hospitais que ofereçam o pré-natal psicológico, desta forma apenas as condições biológicas da gravidez são avaliadas deixando de lado as condições mentais desta mulher, podendo ocasionar implicações não só para a gestante, como também, para o feto.
Uma vez que sabemos que o stress na gestação está presente em mais de 80% das gestantes e que os transtornos do humor não são raros nesta fase do ciclo vital, sendo a depressão pós-parto em mulheres brasileiras mais frequentes que a porcentagem mundial que é de 10% a 15%, chegando no Brasil a porcentagens de 19% a 37%, e as consequências que tais transtornos podem trazer para a saúde, tanto da mãe/gestante quanto do bebê/feto, não é mais possível e aceitável que medidas de prevenção de psicopatologias no período perinatal, ainda não seja uma prática comum, em nosso sistema de saúde direcionados à esta população.
Já é sabido que a maternidade é um período potencial para o desenvolvimento de crise, mas parece que a maioria dos profissionais da saúde, tem negligenciado este fato, a fase onde mais há ocorrências de internações e desencadeamento de problemas psiquiátricos em mulheres, é durante a gravidez e pós-parto.
O ideário de que a maternidade é uma fase “linda e maravilhosa” na vida das mulheres, pode ser um dos fatores que contribuem para esta negligencia por parte dos profissionais da saúde.
O mito que foi criado historicamente em torno da maternidade, como sendo uma “Benção de Deus”, “O desejo de toda mulher”, entre outros, faz com que a própria gestante ao ter sentimentos hostis em relação a gravidez, ou em relação ao próprio bebê que espera, sinta um forte sentimento de culpa, o que pode levar ao desenvolvimento do stress, principalmente se a mulher já é mãe e engravida novamente, em um momento não apropriado.
Este ideário construído coloca em risco a saúde da gestante, e a do bebê, pois, os próprios profissionais da saúde, não estão preparados para ouvir que ela não está feliz com a gravidez naquele momento, ou qualquer outro evento desagradável que possa ter ocorrido. Muitas são mal compreendidas pela equipe que a atende.
É de máxima importância e urgência que o atendimento à gestante ganhe nova atenção. Já é sabido que o ciclo gravídico puerperal é marcado por alterações emocionais, características desse período, no entanto, há possibilidade de desencadear transtornos psíquicos significativos comprometendo a saúde mental da mulher.
A fase de gestação, é um período potencial para o desenvolvimento de crise, existe um número alto de pesquisas que apontam porcentagem considerável de mulheres que apresentam transtornos psiquiátricos nesta fase do desenvolvimento.
Havendo tantas pesquisas, nacionais e internacionais apontando números alarmantes de mulheres com a saúde mental comprometida, durante o período gestacional, não é mais possível e aceitável que não se faça um acompanhamento psicológico da grávida. Sem com isso querer patologizar a gravidez, uma vez que gravidez não é doença, mas é um momento em que é necessário um cuidado especial.
Só por meio do pré-natal médico e psicológico, é que se poderá prevenir, os riscos a saúde materno-infantil, tais como; o nascimento prematuro, abaixo do peso, complicações obstétricas, atrasos no desenvolvimento infantil, ansiedade e ou depressão pós-parto, psicose puerperal, entre outros.
Pesquisas sugerem que medidas de prevenção como o oferecimento de programas de atenção à gestante e apoio psicossocial, poderiam, minimizar os problemas mentais decorrentes da gravidez, contribuindo para uma vivência mais saudável da gestação, prevenindo perturbações obstétricas e patológicas, para a mãe e bebê.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um olhar psicanalítico sobre a gravidez

Esse texto é apenas um esboço sobre como os conflitos da gravidez podem ser entendidos a partir de um olhar psicanalítico. As gestantes e casais grávidos que leem esse blog, provavelmente não compreenderão muito bem o texto, pois nesse uso termos específicos de um vocabulário técnico.

A gravidez é uma transição que faz parte do processo normal do desenvolvimento, neste período a mulher pode passa por momentos de ansiedade, pois durante o ciclo gravídico-puerperal, há reativação dos conflitos da mulher com as figuras parentais, que ocorreram durante o seu desenvolvimento infantil.
 Além das mudanças corporais, também ocorrem mudanças psíquicas e sociais. Este fato é ainda mais acentuado, quando é a primeira gestação. Nesta fase a mulher deixa o status de filha e esposa, passando a desempenhar o papel de mãe.
Estar na condição de grávida não é vivido com o mesmo sentido emocional por todas as gestantes, esta notícia pode ser bem ou mal recebida dependendo da mulher, e a partir de então, várias mudanças podem ocorrer na vida desta, e independentemente de como é recebida a notícia ou de como esta encara a gravidez, não estará livre da ambivalência de amor e ódio pela gestação.
A qualidade do vínculo da grávida com seus genitores, em particular com sua própria mãe, nas fases mais precoces da vida, desempenham papeis importantes no curso da gestação atual.
Nos primeiros anos de vida, a menina estabelece em relação à mãe, conflito dual de amor e ódio, pois esta enquanto criança se encontra na condição de dependência dessa mãe, fazendo com que ela a teme, inveje e a odeie. Por outro lado esta dependência aliada a grande intimidade estabelecida entre mãe e filha, despertam amor, carinho e grande afeição, assim, as lembranças inconscientes de agressividade e destruição ou de afetividade da mulher em relação a sua mãe ressurgem na gravidez. No desejo de ter um filho, influem causas racionais e conscientes, juntamente com motivações inconscientes de recuperar a própria mãe, identificando-se com ela.
O primeiro objeto de amor tanto para o menino como para a menina é a mãe. A mãe ao beijar, acariciar o bebê pode acabar estimulando e despertando sensações prazerosas na criança. Durante esta fase, o pai da menina é apenas um rival para ela. A menina expressa o desejo de ter da mãe um filho. Somente depois é que a menina vai afastar-se de sua mãe e voltar-se para seu pai.
Mas esse processo não ocorre como uma simples troca de objeto. O afastar-se da mãe envolve hostilidade e a vinculação com a mãe termina em ódio. Freud (1976, p 153) “Uma poderosa tendência a agressividade está sempre presente ao lado de um amor intenso, e quanto mais profundamente uma criança ama seu objeto, mais sensível se torna aos desapontamentos e frustrações provenientes desse objeto; e no final, o amor deve sucumbir à hostilidade acumulada”.
È neste momento que a menina percebe que não é o falo (pênis/objeto de poder) de sua mãe, e que sua mãe também não tem o falo, o possuidor do falo é o pai. A menina simboliza a falta de seu falo, a uma castração, culpando sua mãe pela falta e não a perdoa por ter sido colocada em desvantagem, sentindo muito ódio por ter herdando um genital insuficiente, que nunca lhe servirá para poder conquistá-la.
A menina recrimina sua mãe por falta de amor e por não haver se preocupado em tornar a filha alguém que pudesse com ela compor um casal feliz. Passada esta desilusão, a menina chega após muitos conflitos a reconciliar-se com seu próprio sexo, porém, esta durante sua vida poderá ter certo ressentimento por sua feminilidade.

Nessa primeira desilusão, o imaginário de que é castrada faz com que a menina volte-se para o pai com o desejo de possuir o falo que a mãe lhe recusou esperando agora obter deste. Esta situação se estabelece, quando o desejo de ter um bebê, ocupa o lugar do desejo de possuir o falo, isto é, o bebê assume simbolicamente o lugar do pênis.
A menina fica ligada ao seu pai na esperança de receber deste, o falo, pouco a pouco ela vai transformando este desejo em outro: receber como presente do pai um bebê. Com o tempo percebe que o pai não pode satisfazer este desejo, desilude-se com ele e se afasta pouco a pouco. O brincar de boneca serve como identificação com sua mãe, e ela pode fazer com a boneca tudo o que sua mãe faz com ela, a boneca-bebê se torna um bebê obtido de seu pai.
Quando a menina se dirige para seu pai, identifica-se com sua mãe passiva castrada, e sublima suas tendências ativas. Só muito mais tarde ao tornar-se ela mesma mãe, tem a oportunidade de viver sua atividade diante dos filhos. Para a menina a resolução do Complexo de Édipo conduzirá futuramente, à maturidade sexual e à feminilidade, concorrendo para este fim, à qualidade do vinculo com sua mãe nas fases mais iniciais da vida.
Futuramente, se esse desejo de ter um bebê se concretizar,  será então reativado as primeiras identificações da mulher com sua mãe, podendo despertar sentimentos de agressividade e de culpa.
 As crises decorrentes do período gravídico puerperal se dão a partir da reativação da história passada da mulher, em particular dos desejos infantis. A mulher pode vivenciar a gravidez, como sendo o filho obtido tanto do pai como da mãe.
 Em seus pensamentos infantis a menina pode desejar um dia ter bebês de seu pai para se vingar de sua mãe. Se a gestante simbolizar a gravidez como sendo o bebê obtido de seu pai ela poderá desenvolver sentimentos de culpa em relação a gravidez, podendo ter pensamentos de que irá perder o bebê, que a criança poderá nascer com alguma anomalia, que não será uma boa mãe.
 Simbolicamente este bebê, é sentido como fruto de uma relação incestuosa, além de que em suas fantasias infantis, ela em seu ódio destruía o corpo materno por todos os meios a seu alcance e segundo Freud nosso inconsciente é regido pela lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente”, significando que somos castigados por nossas maldades e esperamos sempre que outras pessoas nos façam o mesmo, no caso a gestante pode inconscientemente temer ser destruída como represália por seu ódio à mãe.
Ao mesmo tempo a grávida pode ter sentimentos de culpa por ter superado sua mãe, pois antes somente ela poderia ter os bebês. Se o conflito persiste no predomínio das fantasias de triunfo sobre a mãe, em vez de reparação da imagem materna, a gravidez será conturbada por intercorrências e sintomas psicossomáticos.
As ansiedades também ocorrem com a proximidade do parto e da mudança de rotina da vida após a chegada do bebê. A ansiedade aparece conscientemente de várias formas: como temor ao filho disforme, medo de morrer no parto, ou como angustia do próprio corpo disforme e medo de parecer assim.
O puerpério é o período que se estende até aproximadamente seis meses após o nascimento do bebê, para muitas mulheres é sentido como uma segunda castração, pois lhe arrancam o falo.
Durante a gravidez a mulher ganha atenção especial, da sociedade em geral, em especial de sua própria mãe, que no inicio tinha uma relação quase que fusional com a mesma, onde esta mãe era o objeto de desejo da criança, esta pensava ser o falo da mãe.

 Para Lacan a criança busca fazer-se desejo, de desejo da mãe, para agradá-la. Assim, muitas mulheres podem sentir o momento de sua gravidez como um retorno a estes primeiros momentos entre mãe e filha. A atenção que a mãe da gestante dá a filha grávida pode ser simbolizada pela grávida, como ela sendo novamente a possuidora do falo, que agrada a mãe, sendo este um bebê dela com a mãe, é com bastante freqüência que nos exames de ultra-sonografia obstétrica, a mãe da gestante acompanhe a filha. Lembrando também que nas primeiras semanas após o parto é a mãe da puérpera que a ajuda nos cuidados do bebê.
Com o nascimento da criança a mãe pode sentir este momento como uma segunda perda do falo, sentindo o parto como uma segunda castração. Este é um período em que a mulher fica muito vulnerável a ocorrência de crises devido às profundas mudanças intra e interpessoais desencadeadas pelo parto, este fato se torna mais acentuado quando é o primeiro filho.
A simbolização de uma nova castração leva a mulher a sentir novamente que não é mais o objeto de desejo do desejo de sua mãe, podendo assim ocorrer sentimentos ambivalentes em relação ao próprio filho, pois agora, ele é quem assume este papel de ser o falo da avó e não mais a filha grávida.
A ansiedade e depressão são comuns, pois a realidade do feto in-utero difere da realidade do recém-nascido. Tais sentimentos de hostilidades da mãe em relação ao bebê são recalcados, assim como os desejos ocorridos na fase Edipiana. Assim a mulher ao relatar suas lembranças do inicio de sua experiência de gravidez e pós-parto, dirá o quão maravilhosa foi esta relação inicial mãe bebê.

REFERENCIAS CONSULTADA.
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DOR, J. Introdução à leitura de Lacan, O inconsciente estruturado como linguagem. Rio Grande do Sul: Artmed, 1989.
FREUD, S. Novas conferências introdutórias sobre psicanálise II: por que a guerra? E outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 151p. (Pequena Coleção das obras de Freud, livro 29).

GREEN, A. O complexo de castração. Tradução Laurice Levy HoorY. Rio de Janeiro: Imago, 1991.

LACAN, J. O seminário: livro 4 a relação de objeto. Tradução, Dulce Duque Estrada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.

LANGER,M. Maternidade e sexo. Folberg,M.N (Tradução). 2ªed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

MALDONADO,M.T.P. Psicologia da gravidez: parto e puerpério.12ª ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

SOIFER,R. Psicologia da gravidez: parto e puerpério. Tradução de Ilka Valle Carvalho.6ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

SZEJER,M; STEWART,R. Nove meses na vida da mulher: uma abordagem psicanalítica da gravidez e do nascimento. Tradução de Maria Nurymar Brandão Benetti. São Paulo: Casa do psicólogo, 1997.

TEDESCO, J. J de A. Componentes emocionais da gravidez. Em Tedesco,J.J de A (Org), A grávida: suas indagações e as dúvidas do obstetra. São Paulo: Atheneu, 2002.